Ciência Comportamental Aplicada

Introdução

O que é ciência comportamental aplicada e por que é importante?

Todos nós queremos ser felizes e saudáveis. Queremos ver nossas famílias e nós mesmos prosperar.No entanto, muitas vezes tomamos decisões que parecem trabalhar contra esses objetivos. Por quê?

O campo da Ciência Comportamental busca compreender os mistérios do comportamento humano – o motivo pelo qual optamos por lanches pouco saudáveis quando estamos de dieta, esquecemo-nos de marcar as vacinas de rotina, adiamos indefinidamente o teste de HIV ou DSTs, pulamos doses do remédio para hipertensão, deixamos o mosquiteiro no canto, ou falhamos em economizar para as necessidades diárias. A Ciência Comportamental aproveita insights e evidências da psicologia, ciência cognitiva, ciências sociais e economia para entender a relação entre nossos traços humanos inatos e o contexto em que vivemos, a fim de encorajar e inibir o comportamento.

Governos, instituições multilaterais e organizações dos setores público e privado usam insights da Ciência Comportamental para descobrir como os elementos da vida cotidiana influenciam as pessoas a se comportarem de maneiras que não se alinham com seus objetivos e intenções.

Princípios-chave

1. A importância do contexto. As decisões e os comportamentos das pessoas são moldados pelo contexto em que elas atuam: as dicas que recebem, as opções disponíveis e mais visíveis, as ações que parecem mais fáceis, as escolhas que veem os outros fazendo e as formas como as pessoas tentam influenciar suas escolhas.
2. Mudar conhecimentos e atitudes geralmente não é suficiente para mudar o comportamento.As intenções das pessoas nem sempre correspondem aos seus comportamentos.
3. Muitas vezes, as pessoas não conseguem prever como vão se comportar em uma determinada situação.A Ciência Comportamental pode prever como os aspectos de uma situação permitem ou impedem as pessoas de tomar decisões alinhadas com seus valores. Perguntar diretamente às pessoas o motivo pelo qual se comportam ou não de determinada forma não ilustrará totalmente a gama de fatores que subconscientemente impulsionam a tomada de decisões. Ao se autorrelatarem, as pessoas também tendem a responder de maneiras que serão vistas favoravelmente pelos outros (viés da conveniência).
4. Pequenas mudanças no contexto podem levar a mudanças significativas no comportamento.

Termos chave

1. Vieses cognitivos (heurística mental) são distorções naturais no pensamento que afetam as decisões e os julgamentos que as pessoas fazem. Um dos objetivos da Ciência Comportamental é entender como esses vieses cognitivos inatos moldam o comportamento.
2. Lacunas de intenção-ação descrevem a discrepância entre o que as pessoas dizem que querem fazer e o que realmente fazem. A ciência comportamental aplicada busca delinear o contexto para ajudar as pessoas a seguir suas intenções, eliminando essa lacuna.
3. Atrito é outra palavra para as inconveniências ou aborrecimentos que podem impedir as pessoas de seguir com suas intenções. A ciência comportamental aplicada busca minimizar o atrito que inibe comportamentos saudáveis ou desejados.
4. Arquitetura de escolha é o design de como (e quais) escolhas são apresentadas às pessoas cujos comportamentos você deseja influenciar – o número de escolhas apresentadas, como cada uma é enquadrada, a proximidade ou facilidade de uma escolha em detrimento de outra.

Objetivos comportamentais e sociais

A ciência comportamental aplicada combina pesquisa qualitativa detalhada e evidências da ciência cognitiva e da psicologia para formular uma compreensão profunda de um contexto particular e como suas características podem conduzir ou prevenir comportamentos específicos. O uso de uma abordagem baseada em evidências pode melhorar drasticamente a aceitabilidade, relevância e impacto de programas e políticas.

Especificamente, a Ciência Comportamental permite a criadores de programas e formuladores de políticas:

• Compreender melhor os determinantes e as barreiras para a adoção de comportamentos específicos que se alinham com os objetivos e intenções das pessoas.
• Elaborar comunicações, intervenções, tecnologias, políticas e programas com base no comportamento, incluindo mensagens e estratégias que abordem de forma eficaz os determinantes comportamentais específicos em contextos singulares.
• Focar as experiências das pessoas impactadas por políticas e programas, em vez das preferências e perspectivas de especialistas e formuladores de políticas.
• Abordar os determinantes subjacentes de comportamentos e motivações, além do conhecimento e atitudes, compreendendo como os comportamentos resultam da interação entre influências cognitivas, sociais e ambientais.
• Utilizar uma abordagem baseada em evidências para desenvolver e testar hipóteses em torno dos determinantes contextuais de comportamentos específicos, seguida por uma abordagem iterativa e baseada em experimentação para formular soluções.

Limitações e oportunidades associadas a uma abordagem de ciência comportamental aplicada

A Ciência Comportamental (compreensão dos comportamentos humanos) é parte crucial do desenvolvimento de políticas e programas.Porém, as intervenções da ciência comportamental aplicada sozinhas (por exemplo, design de arquitetura de escolha, incentivo) provavelmente não abordarão com eficácia desafios complexos e profundamente enraizados, como violência de gênero, trabalho infantil e discriminação.Essas questões exigem mudanças em aspectos estruturais maiores, como relações sociais, oportunidades econômicas, políticas e governabilidade, as quais ainda podem ser embasadas por insights comportamentais. Em outras palavras, a ciência comportamental aplicada é uma abordagem muito poderosa, pois, além de ajudar a compreender o contexto estrutural que impulsiona a tomada de decisões, também pode gerar soluções estruturais e recomendações políticas renovadas.

No entanto, as abordagens da Ciência Comportamental podem não tratar diretamente todas as barreiras estruturais, sociais e políticas para mudança de comportamento. Por exemplo, se você estiver formulando um programa para incentivar a aceitação de aconselhamento oportuno a sobreviventes de violência doméstica, provavelmente desejará abordar as barreiras individuais (necessidade percebida, modelos mentais de aconselhamento), barreiras sociais (tabus quanto a falar sobre o abuso e ausência de norma social para aconselhamento) e barreiras estruturais (profissionais de saúde sobrecarregados, recursos humanos limitados, falta de políticas claras sobre encaminhamentos para aconselhamento).

Os insights da Ciência Comportamental podem ajudar você a descobrir, contextualizar e abordar essas barreiras estruturais, por exemplo, embasando o design de sistemas de encaminhamento fáceis de usar e heurísticas que auxiliam os profissionais de saúde sobrecarregados a conectar sobreviventes com a abordagem de aconselhamento que precisa ser complementada por soluções orientadas estruturalmente, como oferecer centros de aconselhamento mais convenientes ou acessíveis em comunidades de baixa renda e trabalhar dentro da sociedade civil para mudar as influências sociais negativas.

Estudos de caso e exemplos

O campo da ciência comportamental aplicada é frequentemente associado à “teoria do incentivo” popularizada no livro Nudge (2008) de Cass Sunstein e Richard Thaler. Os insights que sustentam a teoria do incentivo são características críticas do campo da Ciência Comportamental.

• As pessoas não tomam decisões ou agem no vácuo.Suas escolhas são profundamente afetadas por características do contexto mais amplo.
• Muitas vezes, mudar conhecimentos e atitudes não é suficiente, uma vez que os comportamentos das pessoas raramente se alinham com suas intenções.
• Modelos econômicos simples que consideram custo e benefício geralmente não conseguem prever o comportamento humano.

No entanto, embora esses insights sejam utilizados para formular pequenas mudanças no contexto, conhecidas como “incentivos”, esses ajustes também podem ser essenciais para embasar políticas e mudanças em larga escala em sistemas e protocolos. A variedade de estudos de caso abaixo exemplifica a diversidade no âmbito das intervenções baseadas em comportamento.

Incentivos

• NEPAL  Intervenção de comparação de pares em unidades de saúde aumenta a aceitação de contraceptivos reversíveis de longa duração (Long Acting Reversible Contraceptive, LARC) em situações de pós-aborto em quase 7 pontos percentuais.
• URUGUAI  Envio de mensagens de texto baseadas em comportamento aumenta a frequência pré-escolar.
• SERRA LEOA  Intervenção de sinalização social eficiente aumenta as taxas de vacinação infantil em 14 pontos percentuais em Serra Leoa.
• UCRÂNIA  Efeito das ferramentas da Ciência Comportamental na aceitação da vacinação: Um estudo controlado randomizado.
• NIGÉRIA  Emparelhamento de chamadas automatizadas com lembretes de imunização em texto melhorou a proporção de bebês com as imunizações de rotina completas aos 12 meses de idade, de forma significativa, e a pontualidade das vacinas administradas no final do calendário de imunização.
• MADAGÁSCAR  Aprimoramentos comportamentais adicionados às transferências de dinheiro melhora os resultados do desenvolvimento na primeira infância incluindo a segurança alimentar a longo prazo e as habilidades sociais das crianças.s

Abordagens sistêmicas

• JORDÂNIA   Estabilização dos meios de subsistência de refugiados sírios em comunidades anfitriãs e jordanianos vulneráveis por meio de trocas de habilidades e oportunidades de emprego.
• MOLDOVA Mudança no tratamento da tuberculose para uma abordagem domiciliar aumenta a adesão entre pacientes com tuberculose.
• SENEGAL Utilização de insights comportamentais para design de sistema de integração do planejamento familiar e imunização.
• ÁFRICA DO SUL   Junção de feedback baseado em comportamento com melhorias de infraestrutura aprimora a conservação de água.
• MALAWI Mudança na forma como os prestadores abordam o aconselhamento de planejamento familiar e integração de ferramentas para encaminhamentos aprimorados amplia o conjunto de escolhas para planejamento familiar e melhora a satisfação do cliente.

Políticas baseadas em comportament

• ÁFRICA DO SUL  Incorporação de ferramentas de mentalidade de crescimento na política educacional melhora os resultados do aluno.
• HAITI  Fortalecimento das políticas e protocolos de preparação para desastresusando insights comportamentais.
• GLOBAL Criação de políticas para reduzir o desemprego jovem em todo o mundo.

Mais Informações

Para saber mais sobre como implementar a Ciência Comportamental, confira este guia de instruções.

Da teoria para a aplicação

• Laboratório de Pesquisa e Design de Insights Comportamentais (BIRD)
• The New Science of Designing for Humans
• United Nations Behavioural Science Report 2021
• Applying Behavioural Science to Support the Prevention of Violent Extremism: Experiences and Lessons Learned
• World Development Report 2015: Mind, Society, and Behaviour

Estruturas e abordagens

• de Michie et al. COM-B: Capability, Opportunity, Motivation 
• da Equipe de Insights Comportamentais MINDSPACE
• da Equipe de Insights Comportamentais EAST Framework
• do UNICEF Behavioural Drivers Model

Guias de instruções

• da BEAR Practitioner’s Guide to Nudging
• The Little Jab Book para a vacinação contra a covid-19
• da OCDE’s BASIC Toolkit
• da Surgo Foundation’s CUBES Toolkit

Considerações éticas

• Ethical considerations when applying Behavioural Science in projects focused on children
• FORGOOD Framework for ethical considerations when nudging behaviour

Cursos

• Behavioural Science Programmes (ABSA)
• Behavioural Insights for Public Policy (BETA)
• Behavioural Science for Practitioners (ideas42)
• Behavioural Economics in Action (University of Toronto/edx)
• SPANISH: Behavioural Economics for Better Policies (IADB)
• Applied Behavioural Science (Ogilvy x 42Courses)

Outros recursos

• The Behavioural Scientist Magazine 
• The Behavioural Evidence Hub (b-hub)
• The Decision Lab Biases Index
• UNICEF’s Behavioural Insights Research and Design Lab (BIRD Lab)